Como podemos despertar como sociedade para a urgência do tema e qual deve ser o papel de cada um de nós no desafio de estarmos cada vez mais alertas e atuantes, saindo do discurso para a prática, de um olhar exclusivamente individual para uma perspectiva coletiva e humana?
Como todo processo de mudança bem-sucedido pressupõe, o primeiro passo é a reflexão.
Precisamos pensar em saúde mental com a mesma lógica com que pensamos sobre qualquer outro tema relacionado ao desenvolvimento sustentável.
Saúde mental não é ausência de doença mental, e não deve ser endereçado apenas individualmente, mas coletivamente.
Em seu mais recente relatório de saúde mental, a Organização Mundial da Saúde diz:
“Nossa visão é um mundo onde a saúde mental é valorizada, promovida e protegida; onde as condições de saúde mental são evitadas; onde qualquer pessoa pode exercer seus direitos humanos de acesso à saúde mental acessível e de qualidade; e onde todos possam participar plenamente numa sociedade livre de estigma e discriminação.”
Saúde mental é um direito de todos e uma questão a ser endereçada colaborativamente por indivíduos, organizações, lideranças, escolas, governos. Não estaremos bem, enquanto muitos à nossa volta não estiverem também.
Para não deixar ninguém para trás, como prega a Agenda 2030, precisamos repensar e ressignificar nossa relação com nós mesmos, com o trabalho, com a vida, e cuidar mais das nossas relações.
Precisamos entender que a escalada do adoecimento mental – especialmente da ansiedade e da depressão – é um reflexo do mundo que criamos. Na era da hiperconexão, nos sentimos cada vez mais isolados e solitários. Estamos ocupados demais e perdendo a capacidade de amar, reconhecer e cuidar do outro?
Vivemos a modernidade líquida, descrita pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Estamos numa multidão e solidão ao mesmo tempo. Não sabemos mais criar laços, e as relações – se é que podemos chamar assim – são cada vez mais frágeis e se desmancham rapidamente.
Também somos a sociedade do cansaço, de Byung-Chul Han, que nos descreve como sujeitos do desempenho. Segundo ele, em busca do máximo desempenho, o sujeito explora a si mesmo, tornando-se agressor e vítima ao mesmo tempo.
“A queixa do indivíduo depressivo de que nada é possível, só se torna possível em uma sociedade que acredita que nada é impossível.”
Ou seja, projetamos algo impossível para nossas vidas, mas na onda da positividade tóxica, do “querer é poder”, perseguimos, cada vez mais estressados e esgotados, um futuro idealizado inalcançável e alienante.
Dito isso e lembrando que na Agenda 2030 não há desenvolvimento sustentável sem saúde mental, fica aqui um convite para pausarmos e pensarmos.
Como seres sociais, neste contexto complexo, desafiador e preocupante, o que podemos fazer para cuidarmos melhor de nós mesmos e do outro?
GoHuman!
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