Entenda por que a saúde mental da sua equipe deveria ser uma prioridade estratégica e saiba como tornar isso possível
Nos últimos anos, a saúde mental e os processos terapêuticos “entraram na moda”. Só no Instagram, a hashtag #saúdemental acumula mais de 12 milhões de posts e mais de 51 milhões de publicações foram feitas usando #mentalhealth. Isso sem falar dos podcasts, dos conteúdos publicados na imprensa, no TikTok e no YouTube, das conversas entre amigos, e assim por diante.
Cientes desse movimento, diversas organizações que ainda não têm uma cultura que valoriza a saúde mental e a segurança psicológica passaram a querer surfar essa onda. Dentre outras coisas, isso levou a um aumento na quantidade de eventos corporativos sobre assuntos que fazem parte desse universo.
O problema é que uma palestra de uma hora sobre como cuidar da sua saúde mental, por exemplo, não dá conta de toda a complexidade do tema. Pelo contrário, além de serem ineficazes, eventos pontuais como esse também podem ser:
Gatilhos para a positividade tóxica – o que, aliás, prejudica a saúde mental dos profissionais e a cultura corporativa (como explica Rachel Goldgrob no quinto episódio do podcast HumanaMente);
Exemplos de wellbeing washing – ou seja, uma prática que essencialmente tem objetivos de marketing e que não condiz com a realidade da empresa.
Na visão de Alessandra Cavalcante e Rachel Goldgrob, cofundadoras da GoHuman, muito mais do que aderir a campanhas específicas (como Setembro Amarelo, por exemplo) e a trends das redes sociais, as empresas precisam se preocupar em construir uma cultura acolhedora, que tenha a saúde mental e a segurança psicológica de seus times como prioridades estratégicas.
“Temos que criar espaços para que as pessoas possam falar sobre suas questões de saúde mental cotidianamente, possam compartilhar suas dores e ter um apoio efetivo”, analisa Rachel.
“Precisamos pensar de que forma é possível desenvolver algo que seja benéfico para o colaborador, mas que contribua para uma mudança cultural, que realmente crie um ambiente saudável de maneira sustentada”, acrescenta Alessandra.
A boa notícia é que organizações que realizam eventos pontuais têm as portas abertas para construir políticas consistentes de saúde mental e segurança psicológica. Os debates deste artigo podem ajudar nos próximos passos.
Para começar, por que as organizações precisam se preocupar com a questão da saúde mental?
Gallup, McKinsey, Organização Mundial da Saúde (OMS) e OCDE são apenas algumas das instituições com pesquisas globais que mostram que o trabalho impacta a saúde mental – e vice-versa.
Uma pesquisa da McKinsey, por exemplo, indica que os profissionais que enfrentam desafios de saúde mental e bem-estar têm quatro vezes mais chances de trocar de emprego;
Segundo a Gallup, 76% dos profissionais já vivenciaram burnout no trabalho;
A OMS estima que até 2030 a depressão será a doença mais comum do mundo. Além disso, a entidade reconhece que essa já é a segunda causa de perda de dias de trabalho. Inclusive, um levantamento da própria OMS constatou que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente em todo o mundo devido à depressão e à ansiedade, resultando em um custo de US$ 1 trilhão por ano em produtividade perdida.
Para Lucia Madeira, Presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro (ABRHRJ), existe um entendimento que é primordial nesse debate:
“Não é mais possível dissociar vida pessoal e trabalho na abordagem da saúde mental. Por isso, precisamos de uma visão integrada para garantir ambientes que propiciem o bem-estar de todos os envolvidos”, analisa.
Porém, criar uma cultura organizacional que valorize a segurança psicológica e a saúde mental pode ser desafiador. Afinal, esse é um processo que envolve tanto aspectos comportamentais, quanto questões práticas de implementação de políticas voltadas para o bem-estar. Buscando identificar os principais desafios neste percurso para entender como superá-los para avançar nessa conversa, entrevistamos Jaqueline Arruda, Lucia Madeira e Mônica Esteves, colaboradoras da ABRHRJ, além das cofundadoras da GoHuman. Na visão delas, o caminho para transformar a saúde mental em prioridade estratégica passa por:
Quebrar estigmas e preconceitos e reconhecer a importância da saúde mental no ambiente de trabalho;
Engajar os líderes nas pautas relacionadas à saúde mental e segurança psicológica no ambiente de trabalho;
Integrar saúde mental e práticas de gestão, oferecendo acesso a recursos e suporte.
Como superar esses desafios
As cinco especialistas concordam que o RH desempenha um papel fundamental no enfrentamento desses desafios – e, consequentemente, na construção de uma estratégia de saúde mental sólida. Porém, elas avaliam que, de maneira geral, os profissionais da área ainda não estão preparados para isso. Portanto, nosso foco daqui por diante é justamente resolver essa questão. Os outros desafios abordaremos em detalhes nos próximos artigos.
“O RH precisa se desenvolver. Essa é a área das empresas que cuida de todo mundo, desenvolve todo mundo, e agora precisa fazer isso por si”, analisa Mônica Esteves, membro do comitê gestor e coordenadora do RHRio, um dos principais eventos da área no Brasil.
Mônica sugere que os profissionais de RH busquem apoio na própria rede para identificar suas lacunas e preenchê-las. “Converse mais com colegas, participe de fóruns, olhe para fora, entenda as tendências, conheça possibilidades e, principalmente, direcione seu olhar para as principais questões humanas”, recomenda.
Eventos como o Congresso RHRio, que este ano teve uma trilha inteira dedicada à saúde mental, com a curadoria de conteúdo feita com o apoio da GoHuman, e o Hu Summit, que promoveu um painel sobre cultura humanizada, são excelentes para isso.
Em encontros como esses, é possível aprender com especialistas, “trocar figurinhas” com colegas do mercado, conhecer boas práticas e equipar profissionais com as ferramentas necessárias para ajudá-los a dar os próximos passos nessa jornada.
Jaqueline Arruda, que também faz parte do comitê gestor do RHRio, complementa a sugestão de Mônica falando sobre outras iniciativas da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Brasil) que ajudam nesse processo.
“Temos o Fórum Saúde Mental, que acontece duas vezes ao ano, produzimos conteúdos exclusivos com o intuito de promover as práticas mais inovadoras em gestão de pessoas e, além disso, oferecemos aos participantes do congresso uma sessão de mentoria pós-evento sobre vários temas – saúde mental é um deles”, revela.
Como diz Mônica Esteves, “a ABRH é um grande celeiro de construção de desenvolvimento humano”. Acompanhar as iniciativas da entidade pode facilitar sua jornada não apenas na construção de estratégias de saúde mental e segurança psicológica, mas nas diversas áreas de conhecimento importantes para a atuação na Gestão de Pessoas.
Finalizando esse debate, Jaqueline pontua: “Estamos aprendendo como sociedade a inserir a saúde mental como parte do desempenho humano no trabalho. Com isso, todo o processo psicossocial presente dentro do dia a dia da organização e as áreas de RH começam a fluir nessa direção”.
O Congresso RHRio 2024 já tem data marcada. Será nos dias 11 e 12 de junho, na Marina da Glória. Acesse rhrio.com.br e saiba mais.
Próximos passos para construir uma estratégia de saúde mental sólida
Depois de se capacitar, os times de RH preocupados em desenvolver ambientes em que o bem-estar e a segurança psicológica sejam prioridades estratégicas precisam ter em mente uma coisa: como diz Alessandra Cavalcante, não existe um modelo único de estratégia de saúde mental que possa ser aplicado para todas as organizações.
“A gente pode pensar nessa estratégia como um grande guarda-chuva que precisa estar sustentado por ações, por iniciativas, que visem especificamente os objetivos de cada organização”, detalha a cofundadora da GoHuman.
Neste sentido, é importante saber responder:
Que estratégia de saúde mental é essa que eu quero implementar na minha organização?
Quais são os objetivos? O que eu quero alcançar?
A partir do momento em que essas respostas estão claras, fica mais fácil definir por onde começar e como fazer esse movimento.
Por fim, é importante que as organizações avaliem e mensurem os resultados de cada iniciativa colocada em prática. Dessa forma, é possível identificar o impacto dessas ações e fazer ajustes necessários para melhorar a eficácia das práticas implementadas.
Ou seja, você pode até aproveitar o hype em cima dos assuntos relacionados à saúde mental para iniciar um debate. Mas tenha em mente que o que realmente vai fazer a diferença é tornar isso parte da cultura, estruturando programas que garantam a perenidade das iniciativas e o acompanhamento de perto de profissionais que podem estar precisando de ajuda.
A GoHuman promove discussões como esta em times executivos e conselhos. Gostaria de conhecer o nosso trabalho? Entre em contato e saiba como podemos ajudar.
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