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Foto do escritorRedação GoHuman

As lições da Dinamarca sobre confiança, bem-estar e felicidade

Atualizado: 6 de fev. de 2023

Entenda como a confiança pode contribuir para uma maior sensação de bem-estar e felicidade e saiba como usar isso para promover ambientes com maior segurança psicológica


Por Rachel Goldgrob*

De maneira geral, você confia nas pessoas? E nas instituições?

Refletir sobre isso é importante porque existe uma relação entre as respostas que você dá a essas perguntas e seu nível de bem-estar e felicidade. Aliás, não é à toa que a confiança é uma das bases fundamentais da cultura da Dinamarca, o segundo país mais feliz do mundo.

Recentemente, passei um período em Copenhagen para conhecer melhor os fatores, as práticas, os hábitos e as políticas públicas que contribuem para os dinamarqueses serem tão felizes.

Descobri que, além de questões relacionadas à segurança, liberdade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a confiança é algo que permeia diversos aspectos culturais e sociais no país, e que contribui para gerar uma maior sensação de bem-estar e felicidade.

Neste, que é o terceiro artigo da série que estou produzindo com base nessa experiência, você vai conhecer a relação entre confiança e felicidade. Além disso, vai descobrir como a confiança pode beneficiar as empresas e entender como promover ambientes com maior segurança psicológica pode aumentar a confiança do seu time. Acompanhe!

Mais confiança gera mais felicidade – e prosperidade

Um estudo desenvolvido pela Universidade de Aarhus, na Dinamarca, revela o quanto a confiança faz parte da cultura do país. Na pesquisa, 78% dos dinamarqueses relataram confiar em pessoas desconhecidas e que não pertencem ao seu círculo social.

Dr. Gert Svendsen, professor de Ciência Política que participou do estudo, explica no livro Trust que a confiança social está relacionada ao que ele chama de ‘autoesforço’ – uma forma de responsabilidade social informal.

Isso pode ser percebido no dia a dia do país ao observar bicicletas estacionadas sem nenhum cadeado, por exemplo, e também pelo fato de muitas mães deixarem seus bebês tirarem uma soneca sozinhos na calçada, enquanto elas tomam café.


Outro caso citado por Dr. Gert é a disposição que empresas dinamarquesas têm em firmar “acordos verbais” em vez de contratos formais.


Além disso, você se lembra das barracas de frutas e vegetais self-service que citei no artigo sobre as bases da felicidade dinamarquesa? Elas são uma amostra clara de como a confiança está presente nas relações diárias no país...

Inclusive, esse nível elevado de confiança é crucial para que o sistema social funcione no país, já que a confiança nas instituições também é elevada.


Apesar de a Dinamarca ter taxas de impostos consideradas bem altas, os cidadãos confiam que esses recursos serão utilizados para beneficiar a população. E eles confiam, claro, porque além de se perceberem que são beneficiados por isso, há muita transparência na forma como o dinheiro é investido.

Para se ter uma ideia, segundo o Índice Global de Percepção de Corrupção, junto com a Finlândia e a Nova Zelândia, a Dinamarca ocupa o primeiro lugar entre os países que são percebidos como os menos corruptos do mundo. Caso esteja curioso, o Brasil ocupa a 25ª posição.

Por outro lado, uma análise realizada na América Latina revelou que, entre os cidadãos da região, os brasileiros são os que menos confiam nas pessoas das suas próprias comunidades – apenas 4,69% afirmam ter confiança nos outros.

Aliás, em geral, os latino-americanos são muito mais desconfiados do que o resto do mundo: somente 12,6% dos moradores da região confiam na maioria das pessoas.

O estudo, que foi feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), revela ainda que a falta de confiança impacta diretamente na economia e nos níveis de produtividade do país.

Segundo a análise, como as pessoas não têm confiança entre si – e muito menos nas instituições –, surge a demanda por regulações excessivas, que travam a inovação e o crescimento econômico. Ou seja, em ambientes em que falta confiança, existe uma sensação de necessidade de mais controle.

“Controle é bom, mas confiança é mais barato.”

A afirmação acima é uma adaptação do Dr. Gert Svendsen para a frase “Confiança é bom, controle é melhor”, geralmente atribuída a Lenin.

A ideia é que níveis altos de confiança geralmente estão atrelados à noção de ‘autoesforço’, indicada por Dr. Gert, em que cada um assume suas responsabilidades – e todos esperam que os outros façam o mesmo. Nesse contexto, há menos necessidade de checagem e verificação.

Assim, menos controle se reflete em menos trabalho, menos preocupações, menos ansiedade e estresse. Portanto, não é difícil imaginar como a confiança é algo fundamental para o bem-estar e por que o nível elevado de confiança é uma das bases fundamentais da felicidade dinamarquesa.

Modelo dinamarquês de gestão baseada na confiança

Para entender a relação entre controle e confiança e como isso interfere no bem-estar, basta analisar os ambientes corporativos. De maneira geral, o que vemos nas empresas é um excesso de controle justamente porque falta confiança.

Isso ficou nítido durante a pandemia, quando as empresas tiveram que migrar para o modelo de trabalho hoje conhecido como home office.


Nessa transição, muitos gestores adotaram práticas de microgerenciamento para compensar a sensação de falta de controle. Ou seja, há uma dificuldade por parte dos líderes de confiar que os profissionais farão seu trabalho sem precisar monitorá-los de perto.

Na prática, porém, o trabalho à distância tem se provado muito eficiente.


Desde que a crise da Covid-19 obrigou organizações a praticarem o home office, diversos estudos indicam que o modelo remoto contribuiu para o aumento da produtividade.

Tanto é que, mesmo após o pior da pandemia ter passado, muitas empresas estão adotando um modelo híbrido – aliando os benefícios do home office com as vantagens da colaboração presencial. Inclusive, não são raros os profissionais que consideram mudar de emprego caso seu empregador atual exija um retorno total ao trabalho presencial.

Ou seja, os gestores precisam se adaptar ao novo cenário, em que é preciso ‘confiar que o outro fará o seu trabalho’ (lembra do conceito de autoesforço, que é a ideia de que as pessoas confiam que cada uma fará a sua parte?).

Na Dinamarca, grande parte das empresas já adotava uma gestão baseada na confiança mesmo antes desse movimento.


Uma pesquisa de 2016 indicou que esse estilo de liderança praticada nas organizações dinamarquesas gera mais cooperação entre líderes e colaboradores, que passam a ser ‘colíderes’.

Tina Øllgaard Bentzen, autora do estudo, explica que o objetivo da gestão baseada na confiança é criar uma organização autodirigida.


“Antes, os sistemas de gestão e controle cabiam à liderança, enquanto os funcionários não podiam influenciar as decisões. Agora, o funcionário tornou-se uma espécie de colíder, que é convidado para a sala de reuniões e que legitimamente pode desafiar o status quo e fazer parte da criação de novos tipos de gerenciamento”, aponta.


Nesse modelo de gestão, o papel dos gestores é apoiar a autoliderança dos profissionais, esclarece Tina.

Uma das consequências desse contexto de alta confiança é que os profissionais se sentem mais satisfeitos e, também, mais felizes.


Estudos comprovam que, em comparação com pessoas em empresas de baixa confiança, as pessoas em empresas em que a confiança prevalece relatam:

  • 74% menos estresse

  • 106% mais energia no trabalho

  • 50% mais produtividade

  • 13% menos dias de licença médica

  • 76% mais engajamento

  • 29% mais satisfação com suas vidas

  • 40% menos esgotamento

Como cultivar a confiança no ambiente de trabalho

Se sua empresa quer seguir o exemplo dinamarquês e adotar um modelo de gestão baseado na confiança, precisa entender que isso vai além de práticas isoladas; precisa fazer parte da cultura da organização.

Então, antes de tudo, é importante analisar quais são as práticas, os processos e as noções que fazem parte do seu negócio que podem estar gerando falta de confiança nas pessoas.

Nesse sentido, focar em aumentar a segurança psicológica pode ser o melhor caminho para impulsionar a confiança na sua organização. Afinal, a segurança psicológica gera no time a sensação de pertencimento, a convicção de que suas ideias e opiniões não serão ridicularizadas e a confiança de que há espaço para erros no processo de aprendizagem.

Como explica Alessandra Cavalcante, minha sócia na GoHuman, “a segurança psicológica viabiliza a criação de espaços de diálogo e de autenticidade dentro das organizações”.

Então, quando as pessoas se sentem mais psicologicamente seguras, naturalmente confiam mais umas nas outras.


Inclusive, há pesquisas que indicam que a autenticidade e a empatia – algo muito presente em ambientes com segurança psicológica – são alguns dos principais impulsionadores da confiança nas organizações.

Portanto, o caminho para nutrir a confiança na sua empresa passa por tornar os ambientes mais psicologicamente seguros e propícios para melhores relacionamentos – gerando mais bem-estar e felicidade.

Tem interesse em conhecer nosso trabalho voltado à geração de ambientes psicologicamente seguros e o desenvolvimento de lideranças humanizadas? Conheça nossas soluções ou entre em contato conosco.

*Rachel Goldgrob, cofundadora da GoHuman, é psicóloga com certificação internacional em Coaching de Liderança pela Georgetown University e em Estratégia de Impacto Social pela University of Pennsylvania.



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