Não vamos fazer suspense, pois a resposta para a pergunta do título precisa ficar clara desde já: segurança psicológica e ESG são agendas totalmente conectadas.
Por um lado, ter um ambiente psicologicamente seguro permite que as empresas adotem práticas ESG de maneira muito mais efetiva e sustentável no longo prazo. Por outro, os fatores ESG (social, ambiental e de governança) impactam diretamente a saúde e o bem-estar dos colaboradores.
Para entender melhor a relação entre segurança psicológica e ESG e saber como uma cultura focada no bem-estar físico e emocional pode contribuir para que as empresas adotem um posicionamento mais transparente e responsável, siga a leitura deste artigo.
Segurança psicológica e ESG: tudo começa com uma gestão humanizada
“Líderes mais conscientes e engajados desenvolvem organizações melhores, e essas organizações geram impacto positivo na sociedade e no planeta.”
Essa é a premissa do trabalho da Humanizadas, uma empresa de inteligência e análise de dados da nova economia.
Anualmente, com base em uma pesquisa que mede a qualidade da gestão e a qualidade das relações que as organizações nutrem com seus diferentes públicos, a Humanizadas desenvolve o relatório Melhores para o Brasil.
Essa análise gera um ranking com as empresas mais bem avaliadas e alinhadas ao conceito de ‘gestão humanizada’ – que refere-se a quanto a empresa tem um propósito maior, uma estratégia de valor compartilhado, uma cultura e uma liderança conscientes e promove aprendizado e mudança.
O que a pesquisa da Humanizadas deixa claro é que empresas com lideranças mais conscientes (em relação aos seus impactos nos stakeholders) e que se preocupam em promover uma cultura focada no bem-estar e na confiança, geram maior valor em múltiplos capitais: financeiro, social, cultural, humano e intelectual, entre outros.
Para se ter uma ideia, as empresas que adotam a gestão humanizada registram uma performance das práticas ESG 39% melhor do que a média do mercado.
No longo prazo, empresas de capital aberto que fazem parte do ranking Melhores para o Brasil têm performance 5,5 vezes superior à carteira da B3 e 1,5 vezes ao ISE B3.
Além disso, as empresas que adotam a gestão humanizada superam outras organizações que não praticam esse modelo nos níveis de bem-estar, confiança, inovação e inclusão.
Segundo Pedro Paro, CEO e fundador da Humanizadas, há uma diferença nítida de modelo mental que faz com que as empresas listadas no ranking Melhores para o Brasil consigam ter resultados melhores em suas práticas ESG.
“Quando comparamos a média de negócios do Brasil com as empresas que praticam a gestão humanizada, podemos dizer que um modelo está mais orientado para o ego e outro modelo está mais orientado para o eco, para o ecossistema, para a geração de valor por múltiplos stakeholders”, comenta.
Ele explica que os modelos de liderança fazem toda a diferença quando se trata da efetividade das práticas ambientais, sociais e de governança.
“Se uma empresa desenvolve boas práticas de ESG, mas não tem uma liderança e uma cultura conscientes, ela não consegue sustentar essas práticas no médio e longo prazo, ou não consegue fazer o melhor uso dessas boas práticas. Por outro lado, se uma empresa tem uma cultura e uma liderança saudável, a implementação das boas práticas de ESG acontece de uma forma mais natural. Inclusive, se a organização não tem uma cultura consciente, ela corre um sério risco de ter casos de greenwashing, peoplewashing, diversitywashing etc.”, alerta.
Sem uma cultura voltada à segurança psicológica, a agenda ESG não evolui
Novamente chegamos a um ponto que sempre destacamos em nossos artigos: a cultura organizacional.
Nós tocamos sempre nesse tema porque a verdade é que essa é uma questão fundamental quando se fala tanto em promover o bem-estar, como em avançar a agenda ESG nas organizações.
Para entender por que a segurança psicológica é tão importante para o ESG, basta pensar no cenário contrário: uma cultura tóxica, em que o medo e a desconfiança prevalecem.
Em ambientes assim, não existe a possibilidade de se falar em ações em prol das pessoas, da sociedade e do planeta. Ou seja, não há como adotar práticas ESG se a empresa funciona no modo ‘moedor de gente’, pensando apenas no resultado financeiro acima de tudo.
Rachel Goldgrob, cofundadora da GoHuman, defende que segurança psicológica e ESG precisam caminhar juntos. Afinal, como destaca a especialista, ambientes psicologicamente seguros têm a confiança como base fundamental. E a falta de confiança nas organizações é um dos principais obstáculos para o avanço da agenda ESG.
“Quanto maior é o nível de confiança, melhor é a qualidade das relações das pessoas nas empresas e mais conectadas elas se sentem com a organização. Assim, além de aumentar o engajamento, a confiança também ajuda a reduzir eventos negativos, como fraudes e pequenas corrupções que muitas vezes acontecem em ambientes tóxicos”, reflete.
Nesse sentido, Pedro Paro cita o caso de fraude contábil da Americanas. O CEO da Humanizadas acredita que boas práticas ESG, especialmente as de governança, poderiam contribuir para que essa situação fosse evitada. Contudo, na visão do executivo, a cultura da empresa, a falta de confiança e o medo foram fatores que também condicionaram a ausência de transparência.
“Houve uma série de processos de governança em questões contábeis que não foram checados, mas também tem um histórico de conversas difíceis que não foram feitas. Tem a ver com a falta de segurança psicológica, com a falta de liberdade de expressão. São anos de pessoas que viram coisas acontecendo, mas não falaram porque tinham medo”, reflete.
Nessa linha, Alessandra Cavalcante, cofundadora da GoHuman, destaca que a governança só se torna eficaz quando há uma cultura baseada na confiança e na segurança psicológica.
“Uma governança em que as pessoas podem se desafiar, em que existe um diálogo aberto e níveis elevados de segurança psicológica, vai fluir de uma maneira muito mais robusta. Assim, há muito mais transparência, responsabilidade e confiança no apuramento de informações. Como consequência, a empresa consegue atingir resultados muito mais sustentáveis”, frisa.
A adoção de práticas ESG, o bem-estar e a saúde mental dos colaboradores
Segurança psicológica e ESG estão interligados de diferentes maneiras.
Se ter uma cultura que promova segurança psicológica é fundamental para o sucesso das práticas ESG, por outro lado, ao cuidar do planeta, das pessoas e da sociedade, a empresa aumenta a sensação de bem-estar e a qualidade da saúde mental entre seus stakeholders – inclusive (e especialmente) dos colaboradores.
Dentro desse tema, Rachel Goldgrob e Alessandra Cavalcante alertam para a questão da ansiedade climática, que afeta especialmente as gerações mais jovens.
Ansiedade climática ou ecoansiedade se refere ao medo e às preocupações constantes em torno das mudanças climáticas e do futuro do planeta. Esse estado gera sentimentos de impotência, raiva, insônia, pânico e culpa.
Segundo um estudo realizado com 10 mil jovens em dez países (incluindo o Brasil), 59% dos entrevistados disseram estar muito ou extremamente preocupados com o futuro do planeta – aliás, o índice de jovens brasileiros com ansiedade é acima da média global – 67%.
Segundo a Force of Nature, ONG que ajuda jovens a lidarem com essa questão, 93% dos funcionários das novas gerações dizem que agir para proteger o clima por meio do seu trabalho é importante para seu senso pessoal de motivação e bem-estar.
Ou seja, a adoção de práticas ESG – dentro de uma cultura focada no bem-estar – é uma das maneiras pelas quais as empresas podem ajudar seus colaboradores a lidar com esse tipo de ansiedade, contribuindo para a saúde mental deles.
“Quando a empresa mostra que se preocupa em agir em torno dos problemas socioambientais para construir um futuro melhor, ela aumenta as chances de se conectar com os profissionais que também se preocupam com isso. Assim, ao trabalhar para uma empresa que defende os mesmos valores, as pessoas se sentem acolhidas, isso gera um certo conforto”, explica Rachel.
Indo além, Alessandra alerta que, inclusive, essa deve ser uma exigência cada vez maior dos profissionais na hora de escolher onde trabalhar.
Para se ter uma ideia de como isso é relevante para as novas gerações, um estudo feito pela Universidade de Yale com mais de 6 mil estudantes de negócios em seis países revelou que, primeiro, 80% acreditam que as empresas não estão fazendo o suficiente para combater a crise climática.
E ainda, mais da metade (51%) aceitaria um salário menor para trabalhar para uma organização com melhores práticas ambientais.
Por fim, uma análise da Robert Half indica que dois em cada cinco funcionários procurariam uma nova vaga de trabalho se achassem que a empresa para qual trabalham não estava fazendo o suficiente em questões ESG, como reduzir as emissões de carbono ou operar com ética.
“Empresas que têm práticas ambientais responsáveis conseguem fortalecer a imagem da marca – e isso faz com que as pessoas se sintam orgulhosas em trabalhar para elas. Quando você conecta o propósito corporativo com as pessoas, naturalmente gera um ambiente mais saudável, em que elas se sentem parte da mudança, mais motivadas e felizes”, conclui Alessandra.
Saiba mais!
Para se aprofundar nesse tema e saber como criar culturas focadas no bem-estar para aumentar o engajamento dos funcionários e, assim, aumentar a efetividade de suas iniciativas voltadas às áreas sociais, ambientais e de governança, leia nossos outros artigos sobre esse tema:
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