Saiba como a segurança psicológica influencia a saúde mental no ambiente de trabalho e entenda as vantagens de promover uma cultura focada no bem-estar emocional dos colaboradores
“Bem-estar” é um tema recorrente na área de gestão de recursos humanos. Inclusive, o mercado global de wellness corporativo foi avaliado em US$ 52,8 bilhões em 2020 – com previsão de crescer 7% até 2028.
Porém, muitos programas corporativos de bem-estar ainda carecem de uma questão crucial: o cuidado sistêmico da saúde mental na organização.
Para se ter uma ideia, uma pesquisa do portal de recrutamento e seleção Empregos.com.br indica que, nos últimos 12 meses, uma em cada quatro empresas no Brasil afastou de um a cinco funcionários por adoecimento mental.
Por outro lado, o mesmo estudo mostrou que apenas 34% das empresas analisadas realizam iniciativas para informar e prevenir transtornos mentais no ambiente de trabalho. Além disso, somente 6% do total oferecem espaços para sessões de terapia.
A verdade é que para promover bem-estar no trabalho não basta ter programas com algumas ações isoladas, tampouco oferecer “benefícios” como área de snacks, salas coloridas, aulas de ioga e mesa de ping-pong fará diferença na saúde mental dos colaboradores.
O que percebemos na prática é que as ações do programa de bem-estar geralmente têm como foco remediar sintomas relacionados a problemas de saúde mental, tratando isso individualmente.
No entanto, pesquisas nessa área mostram que intervenções direcionadas apenas a indivíduos têm muito menos probabilidade de ter um impacto sustentável na saúde dos funcionários do que soluções sistêmicas, com intervenções em nível organizacional.
Ou seja, no fim das contas, é a cultura organizacional como um todo que tem o maior impacto no bem-estar dos profissionais. Portanto, empresas que realmente se preocupam com a saúde emocional dos funcionários deveriam, acima de tudo, priorizar a promoção de um ambiente com segurança psicológica.
A relação entre segurança psicológica e saúde mental
Depoimentos sobre assédio moral, histórias de humilhações diárias e sobrecarga de trabalho desumana. Talvez você tenha encontrado alguns desses temas na mídia nas últimas semanas. Isso porque alguns acontecimentos recentes expuseram uma realidade assustadora sobre o cotidiano opressivo vivido por muitos profissionais.
Porém, infelizmente, histórias assim não são novidade para quem trabalha em empresas e setores já conhecidos como “moedores de gente”. Apesar disso, grande parte das organizações não faz o suficiente em relação ao bem-estar emocional de seus colaboradores – e as pessoas percebem isso na prática.
Uma pesquisa nacional feita pela Vittude, plataforma de terapia online, em parceria com a Opinion Box, indica que 70% dos brasileiros acreditam que as empresas não sabem lidar com a saúde mental dos funcionários. Inclusive, 61% dos entrevistados no levantamento disseram que o estresse do trabalho já prejudicou a sua saúde mental.
Outro estudo aponta ainda que ansiedade e estresse são as principais origens de problemas de saúde mental que fazem com que os colaboradores precisem se afastar do trabalho.
Por fim, em outra análise, quando questionados sobre aspectos de seus empregos que prejudicam sua saúde mental e bem-estar, os funcionários citaram:
O fato de precisar estar sempre on call;
O tratamento injusto;
A carga de trabalho irracional;
A baixa autonomia;
E a falta de apoio.
Ou seja, são as emoções e reações negativas geradas pelo ambiente de trabalho que condicionam grande parte do adoecimento emocional dos profissionais. É por isso que promover um ambiente psicologicamente seguro é um passo crucial para cuidar da saúde mental dos colaboradores.
Como explica Rachel Goldgrob, cofundadora da GoHuman, a segurança psicológica está relacionada às dinâmicas das relações, diz respeito a criar um ambiente seguro, enquanto a saúde mental está relacionada ao indivíduo.
“Não dá para falar de saúde mental, sem tratar dos ambientes de trabalho. Cada um vai ser impactado pelo ambiente de diferentes maneiras. Então, ações voltadas à saúde mental devem ter um caráter preventivo em duas dimensões: além de ajudar os indivíduos na ampliação de seus recursos emocionais e no estabelecimento de um canal seguro para a busca de apoio sempre que necessário, é fundamental tratar dos elementos estressores externos (cultura, liderança, práticas etc).”, detalha.
Alessandra Cavalcante concorda, e complementa: “a boa saúde mental dos profissionais é uma das consequências de um ambiente psicologicamente seguro. Culturas em que profissionais podem se posicionar sem medo, as relações não são tóxicas e existe espaço para aprender e desafiar, impactam positivamente no bem-estar emocional dos profissionais”, aponta a cofundadora da GoHuman.
Além disso, Rachel acrescenta que esses dois fatores – segurança psicológica e saúde mental – não funcionam de forma isolada. “Não adianta você estar com a sua saúde mental perfeita, em um ambiente tóxico. E não adianta estar em um ambiente bom, mas com a saúde mental ruim. É preciso trabalhar os dois lados, cada um de forma diferente. De maneira geral, um ambiente psicologicamente seguro ajuda, sim, a manter a sanidade mental”, frisa.
Por que sua empresa deveria se preocupar com a saúde mental dos colaboradores?
As sócias da GoHuman destacam que saúde mental precisa estar entre as prioridades das empresas. A razão é simples: na era ESG, negócios que não cuidam de seus stakeholders se tornarão cada vez mais irrelevantes. E os funcionários são um dos públicos mais importantes para que a organização esteja alinhada às demandas do mercado.
A partir dessa análise, Rachel reflete: “É crucial parar e pensar: Qual é o tipo de tratamento que a organização oferece aos colaboradores?”.
Um estudo feito pela Pearson indicou que:
71% dos profissionais entrevistados no Brasil acreditam que as organizações deveriam oferecer serviços gratuitos de saúde mental aos empregados.
92% disseram que priorizam empresas que oferecem algum tipo de serviço ou programa voltado às questões de saúde mental e bem-estar, na hora de procurar emprego.
Além disso, como segurança psicológica e saúde mental caminham lado a lado, empresas que se preocupam com o bem-estar emocional dos funcionários também se beneficiam com, por exemplo:
Aumento da produtividade;
Aumento do engajamento;
E diminuição de turnover.
E ainda, organizações que não se preocupam com a saúde mental dos funcionários podem sentir isso “no bolso”. Estima-se que a perda de produtividade causada por problemas como depressão e ansiedade custe cerca de US$ 1 trilhão por ano para a economia global.
Em contrapartida, investir no cuidado mental dos profissionais traz um retorno significativo. Para cada US$ 1 aplicado no tratamento para transtornos mentais comuns, há um retorno de US$ 4 em melhoria da saúde e produtividade.
Por fim, Alessandra salienta que cuidar da saúde mental ajuda as empresas a serem mais flexíveis e ágeis.
A especialista destaca que vivemos em um mundo BANI (frágil, ansioso, não linear e incompreensível) e RUPT (rápido, imprevisível, paradoxal e emaranhado). “Nesse cenário, é impossível achar que o ambiente de trabalho estará livre de pressões”, explica.
O que acontece, então, é que ter ambientes psicologicamente seguros e promover o bem-estar dos profissionais é crucial para que a organização esteja apta para atuar em meio às constantes transformações e lidar com todas as demandas e pressões desse mercado complexo.
“Não podemos ser ingênuos de achar que a pressão vai acabar. Não se trata disso. É sobre como conseguimos lidar com pressão de mercado, com a complexidade, com a incerteza, a partir de um lugar que permita que as pessoas possam dar o seu melhor sem se prejudicar física e mentalmente”, indica.
Rachel acrescenta que, na prática, muitas empresas adicionam uma carga emocional desnecessária a essa pressão já bastante grande de ter que lidar com as mudanças e demandas do mercado. “O que vemos é que se cria uma pressão adicional e uma noção de limite de pressão a que as pessoas devem se submeter. Por exemplo: profissionais virando noites para dar conta do trabalho muitas vezes é algo normalizado. Mas isso não é normal e não deveria ser visto como algo regular!”, defende.
O contexto é o seguinte: por um lado, temos consumidores que levam em conta a forma como as empresas tratam seus funcionários em suas decisões de compra. Por outro, os profissionais avaliam os esforços da organização em relação ao cuidado com a saúde mental dos funcionários na hora de escolher onde trabalhar. Ou seja, o caminho que as empresas precisam seguir está posto. O desafio é encontrar formas de fazer isso ser parte da estratégia operacional da companhia.
Como promover segurança psicológica para melhorar a saúde mental
As cofundadoras da GoHuman ressaltam que para promover uma cultura de segurança psicológica que proporcione uma boa saúde mental dos colaboradores é importante, antes de tudo, realizar um diagnóstico sobre o estado atual da organização.
“O primeiro e mais importante passo é escutar, analisar e tentar tirar a temperatura da organização – fazer um diagnóstico. Até mesmo uma pesquisa simples para entender o que está acontecendo e qual é a percepção dos colaboradores já pode ajudar nesse sentido”, aponta Alessandra.
Nessa etapa inicial, as especialistas frisam que é fundamental analisar a cultura na prática e principalmente os processos potencialmente problemáticos. “É preciso avaliar uma série de aspectos – desde como as pessoas se relacionam, como é a cultura da organização de uma forma geral, até as práticas e os processos que podem estar condicionando o estresse mental”, ressalta Rachel.
Alessandra reitera: “Estou convencida de que só é possível gerar segurança psicológica e promover saúde mental se olharmos para os processos, que são o motor da engrenagem toda”, pontua.
Ela comenta que mesmo que a empresa não consiga se reestruturar completamente, pode utilizar o princípio de Pareto (80/20): “Identifique quais são os 20% dos seus processos que, se ajustados, podem gerar um ganho significativo em termos de melhoria do bem-estar emocional do time”, recomenda.
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